Setembro Amalero SL (Haru)

Vamos falar de setembro amarelo? Vamos falar do Haru?


(Alerta de gatilho)

 Eu já havia dito isso aqui uma vez e acho que todo mundo que lê e presta atenção na história sabe dos problemas do Haru com a saúde mental.

Muita gente não entende ou minimiza o sofrimento do Haru para ficar do lado do Ren, o que é compreensível, mas injusto as vezes.

Na infância é quando a mente do indivíduo está em desenvolvimento e é quando mais deve ser preservada. Os traumas nessa época podem marcar uma pessoa para vida toda. Tanto o Haru quanto Ren têm traços em sua personalidade que foram moldados por esses traumas, como falta de autoestima (para os dois) dificuldades de aceitar que um elogio é verdadeiro (os dois) insociabilidade (Ren), entre muitos outros. A principal diferença é que o Haru se lembra de todos os seus traumas, diferente do Ren que a mente bloqueou para proteger a si mesmo e mesmo assim esses traumas ainda influenciam inconscientemente o seu modo de agir.

Mas hoje não vou me aprofundar no Ren e sim no Haru.

Quando o Haru tinha apenas oito anos, ele foi obrigado a se separar da mãe, isso já seria um motivo suficiente para um trauma, mas não foi apenas isso, porque além de obrigar que ele fosse morar com pai, ela nunca mais ligou para a criança. Em nome do suposto bem do Haru, a Haruko simplemente abandonou o próprio filho em um país com costumes tão diferentes dos quais ele foi criado. No começo não falava com ninguém nem com os irmãos, e por isso que, mais tarde, os Kaido e o Mori-sensei dizem que o Ren era a cara dele quando se mudou para o Japão.


Uma criança com a aparência ocidental em um pais onde o diferente não é bem recebido e ainda sem saber falar bem o idioma. O Haru começou a sofrer bullying e não só isso, provavelmente desde aí colocou na cabeça que a mãe não o amava porque ele se parecia com o pai dela, a quem ela odiava. Essa criança de só oito anos perdeu sua casa e foi para um lugar que ele não queria e mesmo recebendo o amor do seu pai e sua madrasta, a quem ele mais tarde considerou como mãe, não superou o trauma de ser rejeitado e de se sentir não querido.

Entretanto, no Japão ele tinha uma família e se sentia útil cuidando dos seus irmãos mais novos, porém, com o passar do tempo, os gêmeos já adolescentes começaram a rejeitar seus cuidados excessivos. Então o Haru enfrentou mais uma vez o sentimento de rejeição.

O Haru se sentia mesmo solitário, pois apesar de ser simpático, ter boa aparência e estar sempre cercado de amor, não acreditava que esse amor era verdadeiro e que não poderia ser recíproco como o que ele gostaria de oferecer.

O Haru se sente solitário,  essa frase foi dita várias vezes, tanto no anime quanto no mangá, e são muitos que não prestam atenção. Não há solidão pior do que estar cercado de pessoas e se sentir sozinho. 

Não é aquela solidão que bate às vezes, quando você quer se reunir com os amigos.

É aquela que te faz pensar que ninguém realmente faz questão de ter sua companhia e ter esse sentimento te corroendo por dentro.


Depois que a Haruko inventa que está morrendo para que ele vá ao Canadá conhecer o Ren, sem que ele saiba, o instinto protetor do Haru logo fala mais alto e ele passa a querer cuidar do menino, mesmo que no começo o Ren ignore ele por completo. Então quando ele vê que esses cuidados estão sendo correspondidos e que aquele garotinho totalmente selvagem está se apegando a ele, o Haru se sente “No paraíso” como ele diz, porque já não se sente inútil e tem alguém que realmente precisa dele e de quem ele deseja cuidar.

Então o Haru volta para o Japão depois de ter conquistado a confiança, o carinho e admiração do Ren. Esse é um sentimento recíproco, mas até esse momento não existe amor romântico muito menos intenção sexual.

Ao contrário do que muita gente diz e pensa, não havia maldade ali, eram apenas duas pessoas com o coração quebrado que se uniram por coincidência do destino. Então esse mesmo destino vira o mundo deles mais uma vez de cabeça para baixo no acidente que mata os pais do Haru e o deixa em coma por um mês.

Agora vamos imaginar a situação: você sofre um acidente, fica um mês desacordado, quando recobra a consciência não tem lembranças do que aconteceu, seus pais morreram, seu irmão mais novo te culpa, sua mãe, a pessoa que mais deveria te amar, não fez questão de ir ao hospital para ver como você estava. Você sofre de intenso sofrimento de culpa, não consegue dormir e fere a si mesmo. É separado dos seus irmãos, a única família que lhe restou, porque os avós deles não queriam alguém que não tivesse o mesmo sangue, e vai parar em um orfanato, mesmo tendo uma mãe que poderia ter ido te buscar. Você tem apenas 17 anos.

Sempre que eu lembro disso tudo, eu quero chorar muito. Ainda tem uns que falam: Ah você vê Super Lovers, não vê que o Haru está mal?

Gente, dá pra ver que o Haru não tá bem, que ele tá mal, cheio de traumas e complexos desde o primeiro capítulo! A história mostra isso o tempo todo; não é uma coisa que a Abe inventou para ser uma desculpa pras ações do Haru. O que tá errado não vai deixar de estar errado, mas é assim que entendemos o personagem. Toda a trama se baseia baseia na psicologia, a história não é sobre quando os dois vão transar, embora alguns desgraçadamente acreditem nisso. A história é como eles lidam com esses traumas e como vão, aos poucos, evoluindo e aprendendo com os seus erros, na experiência mesmo.

Os dois estão num processo de amadurecimento, não é apenas o Ren.

Para mim, é ignorância, falta de informação e prejulgamento quando acusam ele de pedófilo, sendo que está óbvio de todas as maneiras possíveis que não é esse o problema.   

O Haru tem depressão, tem ansiedade. 

Depois do acidente, ele perdeu a casa que ele tinha uma segunda vez e viu todos que ele gostava irem embora, mesmo que o Aki e o Shima ainda não pudessem decidir por si mesmos, eles também abandonaram o Haru.

Eu ainda me pergunto como ele fez pra seguir adiante depois de um baque tão horroroso e ainda se negando a se consultar com o Mori-sensei. Entendendo ou não, o Haru seguiu em frente usando uma força extraordinária e foi trabalhar para ajudar os irmãos. Não só por esse instinto de cuidar que ele sempre teve, mas por sentir remorso, por achar que por culpa dele os dois ficaram órfãos. Ainda assim ele poderia ter dado as costas para eles também, mas não fez isso.

Mesmo o Haru não tendo autoestima nenhuma, ele foi trabalhar como host, já imaginaram o porquê?

Ele teria uma desculpa para beber e dormir o mínimo, porque ele não conseguia dormir, além de estar cercado de pessoas que poderiam lhe dar a falsa sensação de não estar tão só.

Então, cinco anos depois, tudo mudou, uma criança desconhecida bate a sua porta exigindo que cumpra a promessa de que viveriam juntos.

O Haru não tinha lembrança alguma do Ren, provavelmente e obviamente detestou ter essa responsabilidade, ainda mais quando não sabia como agir com aquele garoto inexpressivo.

Porém o Ren fez por ele algo que ninguém mais fez, ficou ao seu lado, disse que o Haru era a sua família, a única que ele precisava e brigou para estar ao lado dele, mesmo que ele não conseguisse se lembrar do verão que passaram juntos.

Agora, imaginem vocês no lugar dele, não iriam ficar felizes? Não iriam ficar extremamente extasiados, porque, depois de tanta rejeição, existia alguém que, sim, fazia questão de estar ao seu lado, diferente de todo o resto?

No entanto, isso não significa que naquele exato momento o Haru tenha se apaixonado pelo Ren. Mas naquele momento o Haru quebrou uma barreira, pois finalmente acreditou no amor de alguém e se permitiu receber o amor daquela pessoa, mesmo que não fosse a intenção dele corresponder.

A verdade é que o Ren ganhou o amor do Haru a pulso, pois sempre deixou claro que queria estar com ele, que não queria ser apenas um irmão mais novo.

É nítido que os dois sofrem da mesma ansiedade, não conseguem dormir bem se não estão juntos, pois têm medo perder a única casa e porto seguro que conhecem.

Mas isso não é fofo, como eu já disse uma vez, isso é triste.

O Haru continuou em estado de negação por muito tempo, sobre corresponder os sentimentos do Ren, e por isso cometeu vários erros.

O maior problema entre eles nem são esses oito anos e meio de diferença na idade.

Basicamente nenhum dos dois estava preparado para entrar em uma relação com ninguém, seja mais velho ou mais novo, mas o desejo e a necessidade de pertencer ao outro falou muito mais alto que o bom senso.

Tanto o Ren quanto o Haru se sentem pouca coisa ou que não merecem ter tanto, que outro merece mais e eles só têm um ao outro.

E por isso os dois acabam aceitando ou se sujeitando a situações que seriam inconcebíveis para alguém com um pingo de amor próprio.


Eu no começo pensei que seria uma boa ideia que a Haruko levasse o Ren, que faria bem para os dois uma distância segura. Mas se o Haru perdesse o Ren também ele não ia aguentar, seria um golpe de misericórdia, para ele que já havia perdido tudo.

Ele iria morrer e eu não estou falando poeticamente, estou falando sério 😞

Na maior parte do tempo parece que o Haru tá muito bem, sorrindo e brincando, mas por dentro ele está se corroendo com a culpa e todos os traumas que ele carrega. Como a maioria das pessoas que sofre de depressão, às vezes não é fácil perceber o quanto ela está sofrendo e precisa se apoio, pois elas preferem se esconder atrás de um sorriso, pois é difícil enfrentar o motivo de seu sofrimento.  

Sorrir pode ser doloroso.

No capítulo 43 eu acabei tendo um outro baque de realidade, porque eu acreditava na melhora dos dois, e não é que não melhoraram, porque não tem nem comparação os dois no começo da história para como estão agora. No entanto, por mais que tenham melhorado, esses traumas ainda estão lá, as inseguranças ainda estão lá. E foi sofrido ver o Haru sofrendo com isso de novo.

No capitulo 17 ele tinha pensado no quanto queria que o Ren dissesse que não poderia viver sem ele, mas que ele mesmo era quem estava prestes a dizer isso, e no capítulo 43 ele diz: "É por você que eu faço as coisas direito, eu não vivo sem você."

Dá pra sentir não só o amor nessa frase, como a dor. Fazer de outra pessoa o único motivo da sua felicidade não é saudável. Claro que você pode amá-la e se sentir feliz por estar com ela, mas é muito importante aprender a se amar e ser feliz sozinho.

Concluindo, é muito difícil lidar com seus traumas. Pior ainda deve ser ter que falar deles para alguém. Eu gostaria que eles fossem logo se consultar com o Mori-sensei, porque é mais do que óbvio que eles precisam, mas entendo a resistência e essa coisa deles se fazerem de durões e acharem que não é necessário.

Até agora eles têm sido um mal exemplo de como enfrentar certas situações e com isso eu não me refiro apenas ao Ren e o Haru.

A Haruko, nem sei o que dizer dessa mulher. 

Uma dia, numa visita para um trabalho voluntário, viu uma criança, que a lembrou do seu filho, quando o obrigou a ir com o pai. Graças a isso os pais do Haru decidiram adotar o menino.

Logo a Haruko se deu conta de aquela criança havia sido vítima de abusos (não sexuais, mas físicos) e mesmo depois de todo o tempo que ela permaneceu sob sua responsabilidade, ela não levou o menino para ser acompanhado por um profissional, o que teria ajudado e muito no desenvolvimento da criança. Bem ou mal, a Haruko cuidou do Ren, mas pra mim é meio imperdoável que uma cientista, uma mulher completamente esclarecida, não tenha percebido que aquele menino precisava de ajuda psicológica. Mas o que esperar de alguém que abandonou o próprio filho dessa maneira?

Ela provavelmente deve carregar seus próprios traumas, mas ela eu tenho mais dificuldade de perdoar, nem sei se vou um dia, mesmo que expliquem direito o porquê de ela ter tomado as decisões que tomou.

Mas eu tenho esperanças de que logo Super Lovers se torne um bom exemplo de como cuidar da saúde mental. Eu fico agoniada em ver o quanto o Haru sofre, sendo que não precisaria sofrer tanto se procurasse ajuda como se deve.

E nós também podemos tirar alguma coisa de proveito desses maus exemplos?

Isso é uma ficção e nenhuma ficção deve ser usada como um manual para vida, mas observar toda essa situação como exemplo do que não fazer ou de prestar atenção em alguns sinais, para evitar situações com consequências desastrosas é algo que podemos aproveitar.

Como aquela frase: "Crianças, não façam isso em casa!"

Não façam como eles, ninguém merece sofrer calado, ninguém merece se sentir menos do que é, não importa os motivos que te levaram pra esse caminho, todo mundo tem o direito e merece ser feliz, sua vida e saúde mental devem sempre vir em primeiro lugar, primeiro por você mesmo e depois para os outros que te amam.

Esse foi o recadinho da Hinata pra vocês. Fiquem bem ❤


Comentários

  1. Que texto sensacional ❤️ Concordo com absolutamente tudo. Como eu queria que todos que são fãs de SL lessem isso! O que o Haru passou é realmente muito triste, chorei lendo, pois é horrível até imaginar o que ele sente e passa devido a tantos traumas. Como você disse, espero que no futuro SL possa ser um bom exemplo de como lidar com a saúde mental; Haru merece isso, RenRen também e todos que lidam com algum tipo de trauma/transtorno.

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    1. Eu também gostaria que todos pudessem ler esse texto até quem não gosta de SL porque talvez assim conseguisse enteder a história de verdade e quem é fã não pode deixar mesmo que chamem o Haru de pedófilo, esse não é o problema nunca foi, por mais problemática e complicada que tenha sido a relação deles principalmente no começo. Com relação a isso tenho absoluta certeza que estou certa e vou continuar esperando o final feliz pros dois, não aguento mais ver os dois sofrendo 😢

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    2. Exatamente, entre os problemas que eles tem na relação, nunca nem existiu a possibilidade da razão ser por essa dita pedofilia e sim justamente os traumas; Quero muito que as pessoas se esclareçam sobre a história e que os dois se curem, também não aguento mais esse sofrimento :c

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  2. Sei que o haru é só um personagem e que ele n existe. Mas me toca o coração ver o quanto ele sofre e o quanto ele é triste. E me toca o coração pensar que realmente existe gente igual ao haru que tem seus traumas e tristezas, que se sente e é solitário . Ficar um pouco sozinho é bom, se sentir totalmente solitário é horrível... E eu já sabia que o haru era triste, mais vc abriu mais os meus olhos com esse texto incrível, sério tá de parabéns 👏🏻👏🏻👏🏻

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    1. Obrigada ❤ vejo que muita gente não entende o Haru e por isso odeia, e não tem motivo pra odiar ele, o Haru é um docinho 😢❤

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